Quando olho para este relógio, que era da casa de meus pais, faz-me lembrar de todo o passado.
Quando nasci, ele já havia marcado muitas horas, felizes e também tristes. Como são todas as horas.
Durante à noite, ele fazia tique-taque e dão-dão, marcando as horas. Mal o dia raiava, ele marcava a hora de levantar, hora do café, da aula, do almoço, da merenda e do jantar. À volta das aulas, minha mãe olhava para ele, dizendo: “As crianças já estão atrasadas”.
Quando minha mãe dava o castigo, dizia: “Fica ali uma hora”. Mas se ela não estava perto, a gente corria para ver o relógio. Se ainda faltavam muitos minutos, a gente olhava para o relógio e, como se ele pudesse ouvir, dizia: “Querido, corre mais um pouquinho”. E assim ele marcou muitas horas, por longos anos.
Quando nascia mais um irmão, meu pai olhava para este relógio. Se havia alguém doente, marcava pelo relógio a hora de dar os remédios. Quando perdi um irmão, Papai me disse: “Ele morreu às 4 da tarde; o enterro será amanhã às 10 horas”.
Quando olho para este relógio... Tantas saudades. Um dia meu pai não pode ver mais as horas. Porque neste momento o papai morria. O mesmo relógio marcava os seus últimos momentos. Eram 10 horas e 45 minutos. Mas o velho relógio continua o seu trabalho, o tique-taque dos segundos e o dão-dão das horas.
Depois de ter marcado muitas horas de casamento, batizados de toda a família e também as horas da missa. Mas ainda faltava uma hora triste: um dia, às 5 horas da manhã, ele marcou a hora que a mamãe morreu.
Este relógio ainda está com a família. Continua com o seu tique-taque e o dão-dão para todas as horas, alegres e tristes. Como são todas as horas.”