Curta criado especialmente para a 10ª edição do Festival do Minuto realizado em 2003.

 

"Mãe" era o tema do evento e este vídeo saiu vencedor da competição.

 

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ESTE RELÓGIO

Kiko Mollica pediu à sua mãe, Maria José Mollica Vidigal, que contasse a história de um relógio de parede que chegou à sua casa no ano em que ele nasceu.

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A este depoimento o diretor somou uma crônica escrita por sua avó, Rita Rocha Mollica, sobre o objeto. O texto, redigido em 1970, foi encontrado entre seus pertences após seu falecimento em 1994.

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CRÔNICA

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Quando olho para este relógio, que era da casa de meus pais, faz-me lembrar de todo o passado.

 

Quando nasci, ele já havia marcado muitas horas, felizes e também tristes. Como são todas as horas.

 

Durante à noite, ele fazia tique-taque e dão-dão, marcando as horas. Mal o dia raiava, ele marcava a hora de levantar, hora do café, da aula, do almoço, da merenda e do jantar. À volta das aulas, minha mãe olhava para ele, dizendo: “As crianças já estão atrasadas”.

 

Quando minha mãe dava o castigo, dizia: “Fica ali uma hora”. Mas se ela não estava perto, a gente corria para ver o relógio. Se ainda faltavam muitos minutos, a gente olhava para o relógio e, como se ele pudesse ouvir, dizia: “Querido, corre mais um pouquinho”. E assim ele marcou muitas horas, por longos anos.

 

Quando nascia mais um irmão, meu pai olhava para este relógio. Se havia alguém doente, marcava pelo relógio a hora de dar os remédios. Quando perdi um irmão, Papai me disse: “Ele morreu às 4 da tarde; o enterro será amanhã às 10 horas”.

 

Quando olho para este relógio... Tantas saudades. Um dia meu pai não pode ver mais as horas. Porque neste momento o papai morria. O mesmo relógio marcava os seus últimos momentos. Eram 10 horas e 45 minutos. Mas o velho relógio continua o seu trabalho, o tique-taque dos segundos e o dão-dão das horas.

 

Depois de ter marcado muitas horas de casamento, batizados de toda a família e também as horas da missa. Mas ainda faltava uma hora triste: um dia, às 5 horas da manhã, ele marcou a hora que a mamãe morreu.

 

Este relógio ainda está com a família. Continua com o seu tique-taque e o dão-dão para todas as horas, alegres e tristes. Como são todas as horas.”

Rita Rocha Mollica

 

FILME

FESTIVAIS

 

- 10ª edição do Festival Internacional do Minuto, de 17 a 22 de novembro de 2003

* Melhor Filme

 

- 27º Festival Guarnicê de Cinema, de 14 a 20 de junho de 2004

* Prêmio especial do júri da categoria “Vídeo de Um Minuto”

 

- 11º Vitória Cine Vídeo – ES, de 01 a 06 de novembro de 2004