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Dirigido por Kiko Mollica e Ana Paula Orlandi, o documentário “Soberano” resgata a trajetória de um marco histórico do cinema brasileiro: o bar-restaurante Soberano, celebrizado como escritório informal dos profissionais de cinema da Boca do Lixo, em São Paulo.

 

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BOCA DO LIXO

A história do Soberano se confunde com a da produção cinematográfica da Boca do Lixo. Considerada a “Hollywood Brasileira”, a Boca do Lixo flertou com o cinema marginal nos anos 60 para então abraçar a pornochanchada na década de 70, quando chegou a produzir cerca de 60 dos 90 filmes realizados por ano no Brasil. Apesar da intensa produção (boa parte independente das verbas da Embrafilme) e de ter revelado vários profissionais do cinema nacional, uma considerável parcela da filmografia da Boca do Lixo ainda hoje enfrenta preconceito identificada como uma produção de conteúdo alienante, caráter sexista e de gosto duvidoso, feita sob os auspícios da ditadura militar.

 

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Localizado no número 155 da rua do Triunfo, centro da capital paulista, o estabelecimento era parada obrigatória de técnicos, artistas e diretores de cinema entre as décadas de 1960 e 1980. Era no boteco de pratos-feitos que se planejavam as produções e se distribuíam empregos. Tudo em meio à agitação da área povoada por malandros, prostitutas, travestis pré-silicone e desocupados, que também frequentavam o lugar.

 

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Logo na entrada do Soberano ficava o balcão de 7 m de extensão onde eram servidos cafés e demais bebidas; e ao fundo, um salão com 12 mesas. Depois vinha a ampla cozinha.  De três a quatro cozinheiros cuidavam da preparação dos pratos que, em dia de movimento, chegava fácil à marca de 150 refeições servidas

 

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Os funcionários contavam ainda com um quartinho de descanso. Na época, o segundo pavimento abrigava uma pensão. O bar-restaurante passou por duas reformas – uma delas na década de 1960 e outra no final dos anos 80, quando a produção de cinema da Boca já estava em decadência.

 

SERAFIM TEIXEIRA

Serafim Teixeira esteve por mais de 30 anos à frente do bar-restaurante fundado pelo pai em 1961.

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Na época das filmagens do documentário, em novembro de 2004, “Seo” Serafim possuía um lava-jato/estacionamento no bairro Bela Vista.

 

Depois de muito tempo sem visitar a região central da capital paulista, onde teve seu icônico estabelecimento, “Seo” Serafim retornou ao local para participar do curta metragem “Soberano”.

 

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Com a venda do ponto onde funcionava o bar-restaurante, no início dos anos 1990, o imóvel passou por outras mãos até o lugar se transformar no início de 2004 na LCV Instrumentos, uma loja de equipamentos eletrônicos de propriedade de Luiz Cláudio Vieira.

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PESQUISA

A escassez de material sobre a trajetória do Soberano levou os diretores a buscarem a história oral da freguesia do bar, boa parte dela localizada por meio do boca a boca. Durante a fase de pesquisa, foram entrevistados 17 ilustres frequentadores, todos ligados ao cinema – técnicos, diretores, produtores, atores. Todos foram muito receptivos à ideia. Isso foi ótimo por um lado, mas por outro foi necessário tomar cuidado para que a nostalgia não envolvesse as lembranças e camuflasse a realidade, não caísse naquela coisa de “ah, naquele tempo as coisas eram maravilhosas” ou mesmo de mitificar o lugar. A maioria desses depoimentos, com a informalidade de quem conversa numa mesa de bar, aparece no filme em off. 

 

Dão seus testemunhos:

Adriano Stuart, ator e cineasta

 

Antonio Sant'Anna, diretor de produção

 

Aurora Duarte, atriz, produtora e cineasta

 

Carlos Coimbra, cineasta

 

Carlos Reichenback, cineasta

 

Cláudio Cunha, cineasta

 

Clery Cunha, cineasta

 

Daniel de Oliveira, ator e assistente de direção

 

Francisco Cavalcanti, cineasta

 

Inácio Araújo, montador e crítico de cinema

 

Índio Lopes, ator e técnico de efeitos especiais

 

João Batista de Andrade, cineasta

 

João Callegaro, cineasta

 

José Mojica Marins, ator e cineasta

 

Jota Santana, jornalista

 

Miro Reis, eletricista

 

Ozualdo R. Candeias, cineasta

 

ACERVO FOTOGRÁFICO

O curta "Soberano" também incorporou fotografias de época feitas por Ozualdo R. Candeias.

 

Grande parte das imagens figura no livro "Uma Rua Chamada Triumpho", produção independente lançada em 2001 pelo próprio cineasta, precursor do cinema marginal.

 

Autêntica joia rara, a publicação documenta a Boca do Lixo através de uma infinidade de fotos clicadas por Candeias, que também assina as esclarecedoras e, por vezes, irônicas legendas.

LOCAÇÃO

Como locação, o Soberano foi palco de vários filmes. Isso, de certa forma, denota o jeito despojado, espontâneo e, por vezes, precário de se produzir filmes na Boca. Para ilustrar a, digamos, carreira cinematográfica do bar-restaurante selecionamos trechos de quatro filmes para constar no curta-metragem.

 

AS BELLAS DA BILLINGS - 1987

Direção: Ozualdo R. Candeias

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* Filme gentilmente cedido pelo cineasta Ozualdo R. Candeias.

“Só rodei a cena lá pra ilustrar o que o cara ia falar. Só isso. Os dois caras meio avagabundados que estavam aqui (na Boca), um chegou queria gravar (disco), e esse outro disse 'eu conheço um aí pra gravar'. Então, estes caras que não tinham nada com cinema presenciaram o problema do cinema. Eles prestavam atenção nos caras do grande cinema que andavam por aqui, ficavam aí dentro (do Soberano). Era isso. Rodei porque só tinha o Soberano. O outro boteco do lado de lá (Ferreira) não tinha esse espaço, ficava só gente de pé”.

Ozualdo R. Candeias, cineasta

 

O CAFETÃO - 1982

Direção: Francisco Cavalcanti

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* Filme gentilmente cedido pelo cineasta Francisco Cavalcanti.

“Eu tinha uma cena em que um elemento tinha que telefonar e a gente nem pedia licença: já instalava a luz e já começava a filmar. E o Serafim: 'Mas o que vai acontecer aqui?'. Já tava todo mundo tão acostumando (a rodar cenas no Soberano) que ninguém perguntava onde estava a tomada. O pessoal já entrava no balcão, ia acendendo a luz e já rodava a cena. E nesse dia que eu rodei a cena o Serafim, que também gostava de entrar numas pontinhas, entrou perto da sequência, tá em cena”.

Francisco Cavalcanti, cineasta

 

O PORNÓGRAFO - 1970

Direção: João Callegaro

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* Filme gentilmente cedido pelo produtor Antônio Pólo Galante.

“O Serafim era muito amigo, eu gostava dele e nós estávamos precisando de um carro grande. O personagem principal era um gângster e ele tinha um carrão grande, preto, maravilhoso, e nós falamos: 'Ô Serafim, você tem que fazer o filme', e o Serafim com aquele sotaque maravilhoso: 'João, se eu não falar nada... O quê que eu faço?'. Daí eu disse: 'Você vai guiar'. Ele ficou todo contente, fizemos um plano bonito dele, em 1º plano, a câmera se movimenta, ele ficou contente pra burro. Ele gostou tanto que me ligava pra saber onde que tava passando o filme que ele participou”.

João Callegaro, cineasta

 

OVO DE CODORNA - 1974

Direção: Bernardo Vorobow

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* Filme gentilmente cedido pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

“Eu precisava fazer um filme para me formar (na faculdade de Cinema) na USP. Resolvi fazer um filme sobre a Boca no Soberano, que era o lugar que eu mais frequentava, onde encontrava as pessoas de cinema. E também tinham as prostitutas, que me fascinavam. Decidi fazer um filme que mesclasse esses dois lados”.

Bernardo Vorobow, cineasta 

ALOYSIO RAULINO

Foi a partir do curta dirigido por Vorobow e fotografado por Aloysio Raulino que surgiu a ideia de convidar este último para também assinar a direção de fotografia do “Soberano”.

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Tarimbado profissional de cinema e diretor de diversos filmes, ele guardava uma relação afetiva com o local que frequentou nos anos 1970/1980. 

 

No curta “Soberano”, Raulino acabou refazendo diversos enquadramentos que ele havia feito para o filme “O Ovo de Codorna”, contrapondo passado e presente.

 

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EQUIPE

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Roteiro e direção: Kiko Mollica e Ana Paula Orlandi

Produção executiva: Malu Tavares  

Assistência de produção: Luciana Pilon e Thaísa Alves

Pesquisa: Ana Paula Orlandi

Direção de fotografia: Aloysio Raulino

Assistência de fotografia: Vinícius Casimiro

Making of: Marcelo Garcia

Still: Eduardo Delfim

Som direto: Gabriela Cunha

Trilha sonora e sound design: Paulo Beto

Supervisão de som e mixagem: Alessandro Laroca

Gráficos: Júlio Dui

Finalização de imagem: João Landi Guimarães

Assistência de montagem: Alexandre Gomes Taira

Montagem e produção: Kiko Mollica

Realização: Km 70

 

 

 

Duração: 15’

Formato: 35 mm

Ano de produção: 2005

PATROCÍNIO

O projeto para a realização deste filme foi premiado pelo Concurso Público de Apoio à Realização de Projetos Audiovisuais e Cinematográficos Inéditos de Curta-Metragem, promovido pelo Ministério da Cultura, em 2003.

FESTIVAIS

- 16º Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, de 25 de agosto a 03 de setembro de 2005

* Filme eleito um dos dez favoritos do público e um dos três trabalhos vencedores do Prêmio Espaço Unibanco de Cinema

 

- 9º Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte - Forumdoc.bh, de 18 a 27 de novembro de 2005

 

- 19ª Mostra do Audiovisual Paulista, de 29 de novembro a 4 de dezembro de 2005

 

- 15º Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro – Curta Cinema 2005, de 01 a 11 de dezembro de 2005

 

- 9ª Mostra de Cinema de Tiradentes, de 20 a 30 de janeiro de 2006

 

- 10º FAM – Florianópolis Audiovisual MERCOSUL, de 02 a 09 de junho de 2006

 

- 3º Curta Vídeo Votorantim, de 15 a 19 de novembro de 2006

 

- 4º Curta Santos, de 25 a 29 de setembro de 2006